segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Fica comigo

Sonho,
porque me deixas?
Dás-me tanto a viver,
tanto a conhecer,
para num abrir e fechar de olhos
tudo desaparecer...

Porque não ficas comigo
e eternizamos o que representas?
Não me abras os olhos;
traz-me antes aos molhos
a esperança que alimentas.

Alimenta-me dessa esperança que carregas
e não deixes que ela vá contigo;
porque se um dia te fores embora,
deixa-a a ela ficar comigo.


sábado, 20 de novembro de 2010

O mundo que se habitue

Eu queria partilhar
esta forma de viver.
Eu só queria não gostar
de ter
a meu lado a minha luz,
que me mostre o rumo certo
e o caminho a tomar
da vida que quero levar.

Eu não queria ter-te perto.
Só não queria estar tão certo
de que te vou magoar,
só porque
um dia te irei deixar;
irei partir para longe,
para bem longe daqui,
só p'ra poder brilhar.

E o mundo que se habitue...
Que mesmo que o Sol se vá,
eu não vou deixar de brilhar.

Eu não queria ser assim:
ter em mim a luz do Sol;
não queria não ter fim,
pois vou ter
de acordar um dia
e olhar para trás,
mesmo quando não queria
lembrar-me do que o passado me traz.

Peço ao mundo que se habitue...
Que não é pelo Sol baixar,
que eu vou deixar de brilhar.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Oh mulher...

Oh mulher, que amas tanto em teu olhar;
em cujo olhar tanto há de viver...
Não tornes a querer amar,
para que mais tarde não tenhas que esquecer.

Finge que é teu aquilo que desejas,
mesmo sendo o desejo algo que não vejas.
E não queiras de novo amar,
que isso não te vai deixar voar.

Sei que sou o único em que não acreditas;
mas o único que queres ouvir.
Porque não são palavras bonitas;
é o que sei que não queres sentir.

E então voa para bem longe,
das dores de que te aviso.
Não queiras começar a sentir,
para por fim a um sorriso.

Abre, então, as asas e voa
para bem longe com a lua...
Para que não seja à toa
que esta canção seja tua.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Como um abraço

Foi como um abraço,
que se prende à volta do corpo
e me deixou, como morto,
a sufocar no aperto do toque.
E mais cedo chegou a hora,
de sonhar acordado, comigo,
numa saudade que me devora
para me lembrar de que consigo
respirar de olhos fechados.

Mas não volto
para o mundo dos homens amados.
Porque se sente que é nostalgia
o abraço da magia
que me deixa a respirar
a ilusão de voar;
algo que de costume fazia
e que de hábito acabei por perder
porque me lembrei de esquecer.

sábado, 2 de outubro de 2010

A noite

Hoje não vejo o amanhecer.
Quero fazer durar a paz
que a noite me traz.
Depois de umas horas sentado à janela,
vejo que a noite tem nela
a força de esquecer.

Observo a forma como o vento
consome o cigarro que fumo,
nesta noite em que não durmo.
Vejo a lua brilhar sozinha,
sobre tantos candeeiros acesos;
nesta noite que parece minha.

Ouço os pássaros que trazem a notícia de um novo dia
e aprecio com vaidade o privilégio
do vento solitário que me arrepia.
E vendo que já vem de novo o sol,
recolho para o conforto da minha cama,
abraçando quem me ama.

Cubro meu corpo com o lençol,
como que num gesto de grande esforço,
deixando despido o meu dorso.
E como a noite tem a força de apagar
aquilo que de vaidoso me esqueço,
apago a luz e adormeço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estou só

Não quero que me largues a mão,
nem que me largues deste abraço.
Porque sem sentir o teu toque,
não sei mais o que faço.

Fico vazio e triste
e eu sei que te riste
do meu medo das alturas
e das tuas palavras duras.

Por isso te peço que me dês a mão
e que me cantes uma canção;
que me apertes com força os dedos
a ver se apertas, também, meus medos.

Levo-te a ver, comigo, o mar.
E é quando ele me diz que estou só.
Então afinal isto é que é amar:
é transformar os sonhos em pó.

Esqueço isso e fecho os olhos;
penso antes no que, sozinho, criei.
Faço das ondas o meu desabafo
e vejo que o mar é tudo o que sonhei.

Viver sozinho é tudo aquilo que eu sonhei.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Canta-me uma canção

Canta-me uma canção
e não laves as mãos nas minhas lágrimas.
Canta-me uma canção
e mostra-me que o seu refrão
são mais do que palavras de ilusão.

Mostra-me que cantar
é com mil palavras tocar
a mão que já não pegas.
E com uma palavra me elevas,
no toque de cada verso teu.
E no cantar dos refrões me dás
o misto de guerra e paz
que em tempos me envolveu.

Canta-me uma canção
ou escreve-me poesia;
mas diz-me que ainda vês meu olhar
e sentes meu sorriso ao lembrar
dos versos que te fazia.

Pede-me só mais um dia,
para que eu possa partir
sem voltar a sentir.
Pois de sorrir fiquei cansado;
de olhar calado e gelado,
da luz que me ofuscou,
do verso que me lembrou
ao ver-me assim, sentado.

De estar sentado fiquei cansado
ao ver que o dia amanheceu;
fico agora a ler o teu livro
a ver qual dos poemas é meu.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Acordo em cada passo teu

Esta noite deixei de ser criança;
em meus sonhos deixei a ilusão.
Só me deixei dormir descansado
depois de ir embora a solidão.

Ao partires, acordas-me com saudades.
A despedir, não me tocas o coração.
Fechas a boca para não me dares mais nada,
porque ao que vejo já me deste a tua mão.

E eu acordo,
a cada passo teu.
Fico a ouvir, no escuro,
o mundo que já não é meu.

Bates a porta e fazes tremer o mundo,
partindo num segundo,
sem olhar...
Quero que fiques,
para mais me ensinar
da arte de abraçar
um Adeus.

E de todos os sonhos que possam vir,
lembramos os que não temos;
mas a realidade insiste em existir,
para nos lembrar que é no sonho que vivemos.


É a realidade que nos desperta daquilo que nós queríamos que fosse a nossa vida e é ela que nos mostra que é no sonho que conhecemos a felicidade. Porque o que é real é fugaz e no sonho perpetuamos uma forma de vida. Mas só lembramos o que nos falta, os que não temos, porque os que temos parecem adquiridos. Mas é quando esses sonhos nos acordam que nós sentimos as saudades e é quando eles nos batem com a porta que o nosso mundo treme sem que possamos dar-lhe um último abraço, um abraço da despedida, do Adeus, para sempre.

domingo, 1 de agosto de 2010

O toque de um dia

E que olhar é o teu,
que tanto me diz
sem nenhuma palavra.
E passou a ser meu,
esse sorriso feliz,
de cada vez que te olhava.

Não te vou procurar,
porque tens em mim o teu lugar;
não te quero conhecer,
porque é assim que te irei receber:
de braços abertos.
E estaremos certos,
de que, um dia,
saberei o teu nome.

Foi em teu toque que me perdi;
quase me esqueci
qual seria o meu lugar.
Foi com tua mão na minha
que quase voei até aos sonhos
e no largar da tua mão
que toquei com os pés no chão.

Não quero que ma dês outra vez.
Quero só que voltes para te conhecer.
Quero só ver-te a olhar para mim
como o fizemos hoje sem nos saber.

Quero outra vez o nosso toque
que nos tornou crianças apaixonadas;
e digo-te com certeza
que irão viver abraçadas.

Quero ver o teu sorriso mais uma vez
no tom doce de desafio
com que hoje te deste a mim.
E nestes versos que não lês
deixo-te o desejo que crio:
uma espera sem fim.

É ao ver a inocência dos nossos actos
a crescerem como paixão
que eu próprio te digo que venhas,
que até te posso tocar na mão.

Quero abraçar a paixão
e mais uma vez a tua pele tocar,
como hoje te disse adeus
na esperança de que me venhas a encontrar.



Em tantas horas, tão poucas palavras trocadas. Silêncios que só os nossos olhos compreenderam, respondendo em sorrisos. Sorrisos que só nossos olhos captaram. Olhares que só nós sentimos. O toque que só nós conseguimos viver. A saudade que fica, porque jamais nos voltaremos a conhecer!
Mas fico à espera que um dia nos cruzemos de novo, para jamais nos despedirmos de novo.

Por enquanto voa, porque sei que um dia voarás até mim para que te possa conhecer!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sai dessa nuvem

Sai de trás da nuvem, meu anjo
e vem com tuas asas elevar-me.
Vem a voar para meus braços,
que é esse o teu lugar.
Vem comigo perpetuar,
que eu não fujo dos teus passos.

Sai dessa nuvem, meu anjo, sai
e vem-me conhecer.
Vem comigo viver,
ou deixa-me só o desejo
de te ver voar para mim
que eu morro em teu beijo.

Voa até mim, devagar,
para eu ter tempo de contemplar
a tua forma de viver.
Juro que te vou abraçar, por isso
vem viver comigo meu anjo
e sai dessa nuvem para eu te conhecer.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não vi o Sol partir

E não vi o Sol partir,
porque me levei na corrente
deste sonho eloquente.
Mas assim sonhei,
lado a lado com um amigo,
que se sentou a sonhar comigo.

Ao meu lado? Um amigo. Na beira da piscina fazemos planos e desenhamos mundos no Céu; vivemos nossos sonhos e viajamos no tempo para o futuro, na máquina da nossa imaginação. Somos Reis, ou Deuses, ou turistas que fazem a mala e viajam pela vida, para a conhecer.
Imagino-me assim. Um turista; umas botas de montanha, umas jeans e, para cima, uma t-shirt confortável e um casaco de malha que nos aquece nas noites mais frias. Às costas levo apenas a guitarra e um bloco de folhas onde escrevo. Uma bolsa pequena à tira-colo leva todos os meus pertences: a carteira com algum dinheiro e documentos; uma bússola (que eu não sei ler); uma caneta e um canivete. Pronto para viajar e conhecer o mundo à minha volta. Pronto para as aventuras, a experiência, o conhecimento e o crescimento. Turista sonhador...
Volto ao mundo real. Lá continua o meu amigo comigo. Ouvimos uma criança no quarto da casa em frente a tocar um instrumento de sopro. Trocamos ideias e jogamos Monopólio com as casas que avistamos nos vales das montanhas que nos cercam. Brincamos com esses pontos tão longínquos, que nos cabem na palma da mão.
Conversamos sobre tudo; do que vamos fazer ou do que queremos fazer; daquilo que gostávamos de ser e os caminhos por onde queremos andar.
O pôr-do-sol estende-se pelo céu, reflectindo-se no rio que vemos de onde nos encontramos sentados e na piscina que temos nas nossas costas. É de um vermelho vivo incrível, que divide o Sol em duas metades igualmente lindas.
E continuamos a conversar. Estamos já numa discussão tão viva sobre aquilo que vamos fazer e do quão grandes vamos ser que tudo parecia ser real e os pontos longínquos em forma de casa eram agora todas as nossas futuras conquistas; o rio espelhava não o sol, mas os nossos sonhos realizados; pelo céu já não se estendia a mancha docemente avermelhada do pôr-do-Sol, mas sim o sabor da vitória. Estamos tão embalados pela melodia da nossa imaginação...
...
Já tudo nos parecia distante e tão pouco real, quando nos apercebemos que estávamos sozinhos, eu e o meu amigo; o Sol partira e nós tínhamos continuado ali sentados a sonhar e a partilhar aventuras não realizadas. O rio já não espelhava o Sol, ou os sonhos, mas sim as luzes de todas aquelas casas lá longe. No céu já não estava a cor avermelhada nem a nossa vitória, mas sim a lua e as estrelas. A criança já não tocava o seu instrumento. Já se viam luzes ligadas dentro de casa.
E assim, já sonhados, voltamos para junto do resto do mundo.

Meu raio de Sol...

És tu o meu raio de sol
és tu!
Voltaste para mim nestes dias de Verão.
Peço-te que não voltes mais a fugir
porque quero que me aqueças quando vier o Inverno.
Não fujas e aquece-me o corpo.
Ilumina-me os dias (e as noites).
Acorda-me de manhã,
como fazes sempre, pela janela do meu quarto.
Leva-me o mais doce pequeno-almoço
e dá-me um beijo ao acordar.

Não quero que vás embora.
Quero partilhar meu paraíso contigo.
Quero que fiques aqui comigo;
deita-te do meu lado e aquece tu também.
Não te preocupes que hás-de sempre saber o caminho
para voltares a casa.
Deixa-te, então, ficar.

Dá-me um mundo num raiar,
que eu continuo a viver nele contigo aqui.
Entra mais vezes na minha janela
e lembra-me como é belo este dia.
Espera-me sempre ao acordar
e fica perto de mim
porque se um dia eu acordar mais cedo
também eu te levarei o pequeno-almoço à cama.

"You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away"

domingo, 18 de julho de 2010

Tenho o meu paraíso

Para trás ficam as saudades
daqueles de que me despeço.
E despeço-me porque sei
que ao partir magoei alguém.
Deixo as saudades no bolso
e parto rumo a um mundo novo.
E como é bonito este novo mundo,
agora que nele o posso sentir;
porque sei que por mais de bom que venha,
nunca mais ira partir.

Abraço de perto a felicidade
e digo adeus a tudo o que faz sofrer;
neste mundo que é tao meu
em que aproveito para esquecer.
Num olhar tão sincero
faço dele o meu sorriso,
pois tenho na mão o que quero:
tenho este meu paraíso.

Fecho os olhos e peço ao céu
que não me faça parar de sonhar,
porque quando abrir os olhos
será altura para voltar.
E seja um dia que volte,
um dia para esquecer,
pois volto para um mundo
que só me faz sofrer.




Finalmente chegou o dia em que vos preparei para partir. Para trás deixo os Obrigados e o Adeus num abraço longínquo.
Seja o dia em que eu acordar, o dia em que volte, aquele dia que me faça despertar, que por mais que se sonhe e se tente, não conseguimos viver a sonhar.

Adeus.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Custa

Pesa-me a mão sobre o peito;
a mão que quando me deito
me toca a coração.
Custa-me ao respirar,
como me custa pensar
haver tanta dor na razão.

Custa-me fechar os olhos e dormir
como me custa pedir
mais uma hora de descanso.

Custa-me tanto pensar
como me custa adormecer.
Mas fecho os olhos com força
na ânsia de me esquecer.

E então fico por aqui, deitado
vivo e gelado
à espera que me chamem.
E no sonhar acordado,
digo, de cansado,
por favor, não me amem.

domingo, 11 de julho de 2010

Nu

Quero viver nu
porque foi nu que nasci.
Quero viver assim,
para sentir em mim
o vento que me toca.
Quero viver no estado mais puro;
quero viver nu de preconceitos,
despido de actos perfeitos.
Quero errar em paz
e olhar para trás
e ver os meus defeitos.
Quero viver nu de razão
e nu de coração.
Quero mostrar meu corpo;
viver sem estar morto.
Quero viver nu
para mostrar que é natural
a minha forma de viver.
Quero viver nu porque não é normal,
é um viver natural.
E narcisismos à parte,
sou uma obra de arte.
Não quero roupa no corpo,
porque é um viver pesado
e eu não me quero sentir fechado.
Quero estar aberto à chuva que me molha
e ao mundo que me olha.
Quero mostrar quem sou
e o meu espaço;
e quero que vejam onde vou
e o que faço.
Não quero viver vestido,
porque isso não faz sentido;
porque isso é viver errado.
Quero viver despido,
porque nu é o meu estado.

sábado, 10 de julho de 2010

Rascunho

Deito-me na cama e rascunho.
Rascunho para o ar
palavras do que quero viver,
ou do que virei a ser.
Faço projectos de vida;
desenho uma saída.
Esboço sorrisos
por nada que se vá concretizar.
É o sonho, é sonhar.
Faço planos de voar,
de partir, sem voltar;
e crio o meu próprio fado.
Rascunho um desejo
e rascunho até um beijo.
É um toque rascunhado
de um olhar envergonhado.
Esboço palavras e textos
dos olhos que hoje fecho,
lembrando-me de pensar.
E de olhos fechados rascunho
mais um pouco do mundo.

Estou na cama, deitado
e abro os olhos devagar.
Sorrio e levanto-me,
porque há lá fora
mais folhas para rascunhar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Actos e passos

É com meus actos que mostro quem sou.
É com o que faço que me faço ouvir,
não é com o que digo,
que a boca pode mentir;
nem é com o que sinto,
que o coração pode trair.
É em cada passo que dou que mostro o que sou
e onde vou, devagar, sem ter medo,
seja tarde ou cedo, para mostrar o que digo.
É com o que faço que me afasto do que não quero sentir.
Mas é com o que faço que não engano;
é com meus passos que me amo.
É com o que faço que chamo quem
eu quero que me veja bem.
É com meus actos que não iludo
e com meus actos acudo
aqueles que me chamam.
É com meus actos que digo
àqueles que me amam
que não consigo não os fazer sofrer.
É com meus passos que magôo
e é com meus passos que corro
para longe de tudo.
E novamente acudo aqueles
que com meus passos piso
deixando o aviso
de quando posso magoar.
É com meus passos que faço sorrir
ou então que faço chorar;
mas é com meus actos que sem sentir,
mostro aos outros o que é amar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pintei-te

Hoje lembrei-me de pintar.
Peguei num pincel
e comecei, mas sem papel
não consigo desenhar.
Peguei numa tela
e desenhei nela
o esboço das tuas formas.
E como que numa cor tornas
a estar viva à minha frente.
Mudo então a cor, porque não quero
ter-te de novo ao vivo,
pois desespero
e de ti me esquivo.
Desenho os contornos das tuas curvas
em cores meio turvas.
A tua imperfeição aparece em traços claros
em contraste com a vivacidade dos teus olhos desenhados.
Em teus lábios me envolvi
pois ao desenhar percebi
que os nossos se tinham beijado.
Desenhei teus cabelos
em cachos dourados;
com teus caracóis,
longos e enrolados.
Da perfeição fiz as tuas pernas
ou fiz de tuas pernas a perfeição;
não sei bem qual delas foi
do meu desenho a razão.

Não te pintei o coração,
pois preferi desenhar-te a razão;
nem te desenhei a roupa
e a culpa é só tua,
porque na imagem da minha mente
só te imagino nua.

sábado, 3 de julho de 2010

Olhámo-nos!

Tirei-te a blusa,
como quem usa
luvas de seda.
Atirei-a para o chão
e com o coração
a acelerar
deitei-te, devagar,
na minha cama.
Percorri o teu corpo
com meus lábios
a beijar cada palmo da tua pele,
doce como mel.
Davas-me a mão, mas eu não queria.
Porque de mão dada sentia
e eu não queria.
Desculpa.

Beijei-te, outra vez,
como quem fez
um gesto audaz de magia
que mais parecia
o toque de uma melodia.
Passei-te a mão no corpo
e toquei-te no cabelo,
como que a vê-lo.
Beijei-te o rosto e o pescoço,
como que num esboço
de um beijo apaixonado.

Olhámo-nos!
E então aconteceu
o que naturalmente acontece:
a união de dois corpos,
no calor que aquece,
nos tremores de prazer
do que estava a acontecer.
E não quis fechar os olhos
porque de olhos fechados sentia
e com eles abertos via
a tua cara de satisfação,
no momento da união.
Tremeste abraçada a mim
no prazer daquele fim;
eu só não queria dar-te a mão,
para não te tocar o coração.

E ao deitarmo-nos, lado a lado,
de olhar cansado,
teu rosto fitado,
e suor apaixonado,
fechámos os olhos.
Fechámos os olhos
para ver em nós a razão
e deixar, de parte, o coração.
E deste-me a mão,
mas eu não quis,
pois preferi
ser feliz.


Desculpa por não te dar a mão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Deita a cabeça no meu colo

Deita a cabeça no meu colo,
que com meus dedos afogo
os medos que em tua alma vagueiam.

Deita a cabeça no meu colo
e dá-me o teu olhar,
que ele vai odiar
conhecer o que hoje vejo.

Fecha os olhos e não vejas
aquilo que meus olhos vêem.

Olhemos juntos o mundo lá fora
e vejamos como se alastra a tua dor.
Esperemos de olhos fechados,
porque amanhã tudo será melhor.

Olhemos a vida com olhos de esperança
porque sabemos que tudo um dia irá passar.
E a menos que não passe o tempo,
ainda virei eu para te abraçar.

Abre os braços e sente
os meus braços em ti.

Se algum dia os meus dedos
se esquecerem de continuar,
lembra-me dos teus medos
para eu os abraçar.

Dá-me a mim o que sentes.
Não quero abraçar ninguém.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

São coisas


Há coisas que não conseguem mudar,

e nem mesmo o fogo as consegue queimar;

porque são coisas que mesmo ausentes,

continuam a ser sentidas como presentes.

E se por acaso um dia falharem,

não é razão para preocupar;

porque um dia, quando voltarem,

será para não mais nos deixar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

ainda não...

Foi hoje o dia
que, a partir, me ria
e saí do meu mundo.
Foi num respirar profundo
que abri a porta e saí.
Não sei para onde, mas parti.
Caminhei por subidas e descidas
por calçadas maiores que vidas.
Senti o vento na cara
e numa parede pintada
vi o que um jovem escreveu
em motim da sua paz
que toda a gente leu.
E levo comigo a mensagem gravada
à medida que percorro a estrada.


Foi assim que caminhei até onde as pernas me levavam
sem sequer saber que era para casa que voltavam.





Ainda não é hoje o dia em que não volto. Talvez ainda seja cedo, ou ainda não tenha preparado as pessoas que se vão despedir de mim. Mas um dia esse dia chegará; e não quero parecer preditor, nem tão pouco egoísta, ao dizer que me parece que este vai ser o meu Verão.
Nessa altura estarei pronto para vos deixar a vós crescer sem mim a vosso lado, porque também eu seguirei caminho... sozinho.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quero fugir

Quero fugir;
ou pelo menos não quero ficar.
Quero ir para longe e conquistar
o mundo que há para ver.
Quero esquecer o que deixo para trás
e ir em paz, comigo,
porque sei que consigo
partir e não voltar.
E quando partir não há-de ser para vir.
Quero calar a voz de quem me chama
e dizer a quem me ama
que se lembre de sorrir.
Quero partir sozinho e levar,
na bagagem, só a lembrança
do que um dia a esperança
me lembrou de procurar.
E procuro-me, assim, a mim,
que não sei por onde vou;
só sei que não haverá fim,
mesmo que não saiba onde estou.
Nem tão cedo quero saber
onde estou, para não me lembrar
de para trás querer voltar
e de o mundo me esquecer.
Assim fujo de mim e de todos,
sem destino ou passado.
Não olho mais para trás
e vou comigo, de braço dado.



Porque chega uma altura da vida em que todos nós sentimos esta necessidade de partir e não mais voltar. E será que devemos intelectualizar o impulso? Será que devemos não partir, só porque o rumo normal da vida é não contrariar a vontade e ficar? Ou será que nos devemos deixar levar por esta linda vontade de não querer ficar e partir em direcção ao nosso próprio mundo?
Mas como em tudo o que tem fim, quem cá fica é que sofre, e não quem parte. Mas porquê? Seria tudo tão melhor se quem ficasse sorrisse ao ver-nos partir, porque sabe que vamos para um sítio melhor, onde tudo o que temos é o que fazemos e onde tudo o queremos temos. Será que é uma espécie de inveja altruísta ou de um altruísmo egoísta, ficar-se triste porque o outro parte?
Dói pensar nisso; portanto mais vale partir só com a lembrança de que antes do nosso mundo, vivemos num mundo que não era nosso. Mais vale pegar nas malas e partir em nossa procura, antes que o mundo se esqueça de nós, por sermos apenas "mais um" que contraria a vontade de partir e fica a ter uma vida que não é a sua.
Então é aí que devemos fugir, de nós e dos outros, do que fomos e do que viremos a ser, só para, um dia, sermos o que quisermos...

domingo, 27 de junho de 2010

Dia

Nasce de novo o dia
e mais uma vez vejo o Sol nascer.
Largo a insónia que me prende
e deixo para trás o que me rende.

É um dia novo
que irei receber de braços abertos;
num abraço, de saudade,
do dia que abracei em momentos certos.

É só um dia,
um novo dia;
do dia livre
que eu não tive.
É só mais um,
não há mais nenhum;
é so um dia.
um novo dia.

Traz-me, o dia, um novo alento
da vontade de continuar.
Aos ouvidos me sopra o vento:
"Tu és assim, não vais parar".

É, então, aí que penso:
que se o dia me deixar sem saída,
hei-de sempre escapar,
porque tenho um sorriso maior que a vida.

É só um dia,
um novo dia,
que nunca tive
e já não vive.
Dia destes
há aos molhos;
portanto acordo
e abro os olhos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mundo louco

Não vou ficar a agarrar o céu
nem a tentar voar para lá chegar;
porque aquilo que me pertence,
há-de um dia me chamar.

E sei que pertences a mim, mundo louco,
mesmo que a pouco e pouco
pareça que te despeças,
ao voltar, é para mim que regressas.

Regressas porque sabes que nasceste meu,
mesmo tendo tu muito mais idade.
Já não sabes se é meu ou teu,
porque também é tua esta vaidade.

Mundo louco, que és tão selvagem,
com um espírito tão cansado.
Sabes que só queres os meus braços,
pois só neles és amado.

Mas és amado de forma diferente
da que é amada toda a gente.
És amado só por saber
que em ti irei viver.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Como é bom

Como é bom ter alguém ao lado
que nos dê um sorriso por um olhar;
que nos sorria só porque sente
que sem sorriso os vamos abraçar.

Só porque sentimos sem tocar
e vemos sem olhar;
porque sabemos que lá estarão
os corpos da união.

E mesmo que haja alguma sombra,
no Sol do nosso espaço,
são cinco minutos de discussão
e o resto do tempo de abraço.

Dum abraço mais que sentido
de tantas palavras trocadas;
e por mais que se percorra o caminho,
só o percorremos de mãos dadas.

E são estes momentos
que nos deixam
saber o que é bom viver.
São sentimentos
que se fecham
para jamais esquecer.



Para nós todos...

domingo, 20 de junho de 2010

Não chores

Não chores, "Pessoa", não chores
que te vai deixar de rosto cansado.
Não chores porque de dor já chega
as lágrimas do mar salgado.

Não chores porque não queres
sentir o que é estar sozinho.
Pensa antes que há em ti
o calor do meu carinho.

Não chores porque há sempre
a minha mão para te tocar;
e se mesmo assim chorares
estarei aqui para te acordar.

Mas não quero que chores, "Pessoa".
E digo-te (para não esquecer):
a amizade não te limpa as lágrimas,
apenas não as faz correr.

E se é sozinha que queres chorar,
não te esqueças de lembrar:
antes de deixares a lágrima cair,
pensa que há alguém que fazes sorrir.



A pedido de uma "Pessoa"...
a ela lho dedico.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Somos nós

Somos nós, o sorriso
do que nos diz nada;
e do nada que nos faz,
faz o que nos diz a paz.

Somos o ombro de um homem;
somos o mundo dos Deuses,
do Olimpo que sonhamos
e dos sonhos que lembramos.

Somos do vento que nos varre;
do tempo que nos leva.
E vivemos quentes e despidos
pelo caminho dos esquecidos.

Porque viver nu não é pecado.
É o que nos dita o fado.
É viver no estado mais puro;
é saltar um muro.
É viver em paz.

Porque somos o que nos interessa,
despindo, cheio de pressa,
a roupa que nos prende
e o calor que nos acende.

Somos o melhor e o pior.
O melhor da humanidade.
Somos da nossa idade
e vamos seja onde for.

Somos a cor que pinta o mar;
a fachada de amar.
Somos o que a dor nos detecta;
somos a dor do poeta.

Somos de novo o sorriso
do riso que já nem lembro.
Que de novo me faz lembrar
do passado de uma lembrança,
que em memória me irá tocar.

E é aos Deuses que mostramos
a forma do que amamos.
Mostramos para lembrar
que é a amar que tentamos.
E de novo sentimos no céu
o sorriso do que somos.
O sorriso por trás do véu,
que nos mostra onde fomos.
Pintamos de novo o dia
sem a cor que nos alicia.
Sem a cor fictícia
que nos disfarça a malícia.

domingo, 13 de junho de 2010

Agarra-me um pouco mais

Agarra-me um pouco mais.
Mas não quero sentir;
quero apenas saber,
que se quiser,
te irei ouvir.

Que irei ouvir a voz
que em tempos me disse
o que nem sempre quis ouvir.
Ao que inconscientemente respondia
a sorrir.

Agarra-me um pouco mais
e dá-me o mundo num abraço,
que eu só quero o meu espaço
se nele tiver o mundo que me dás.

Agarra-me ainda mais.
Não quero sequer sentir.
Quero ouvir o respirar
e saber que estás a sorrir
sem sequer olhar.

Não quero que vás embora,
nem que tão pouco te deixes ficar.
Quero apenas um abraço
que me possa lembrar
dos sorrisos que ainda caço.

Nem sei se quero sentir a dor
ou sequer sentir amor.
Quero ter sempre este espaço
que me dás nesse abraço.

Abraça-me um pouco mais,
que sentes que esse abraço
é espaço de abraçar
os sorrisos que te faço.
E não abraces por abraçar,
porque sei que vais deixar
aquilo que sempre quiseste
e que em dias me disseste.



Não é nada o que peço,
é o mundo, num abraço
daquilo que ainda podes sentir.
Pelo que assim me despeço,
à espera de um sinal,
se me estiveres a ouvir.

sábado, 12 de junho de 2010

Desta criança feliz

Sinto a chuva que seca
no calor do pensamento.
Sinto a chuva e nem tento
limpá-la do meu rosto,
porque vai lavar-me as lágrimas
e lembrar-me do seu gosto.

Vejo em meus olhos
o olhar que já não via.
Vejo neste dia
o olhar que eu adoro;
de ver em meu redor
a casa onde moro.

Não poupo as palavras,
nem as tento lavar
na chuva que cai em mim
e me dá razões para adorar.
Nem quero, sequer, dizer
por outras palavras o que levo
dentro de mim guardado:
estas palavras que escrevo.

Ouvi todas as canções
sentindo a chuva a cair.
No sentir de tais refrões
a minha alma partiu;
deixando apenas sentir
o rapaz que lhes sorriu.

E mais do que as escrever,
tento em mim guardar
(decorar ou conhecer)
a memória deste olhar,
que espelha o que há em mim
e esta forma de adorar.

E quero que amanhã volte
o sentimento que não minto,
porque vai lavar-me as lágrimas
e trazer-me o que hoje sinto.
Não quero viver o passado,
porque assim é viver errado;
só quero que dure p'ra sempre
o que não dura eternamente.

E seja quando voltar
um pedaço de céu perdido,
que só o vou abraçar
e em meus braços dar-lhe abrigo.
E seja quando voltar
para me lembrar do que me diz:
um abraço e um olhar
desta criança feliz.


09/06/2010 - da memória dO momento.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Não escondas

Não escondas a tua mágoa,
não faças por a esquecer.
Porque o sorriso por trás da lágrima,
é o mais bonito de se ver.

Deixa a lágrima cair,
não a queiras limpar.
Para que seja a sorrir
que teus lábios a possam apagar.

terça-feira, 8 de junho de 2010

E pudesse voltar atrás

Vejo em seus olhos
as saudades que vive...
As saudades que sinto
daquilo que tive.

E agarro-me ao tempo...
Que não me faz esquecer
que é quando está perto
que a distancia é mais longa de percorrer.

E pudesse voltar atrás
e viver o que ainda me traz
a lembrança de te ter.
E pudesse viver outra vez,
aquilo que viver nos fez
para jamais esquecer.

É mais duro o caminho p'ra casa
quando a vejo partir.
Guardando só na lembrança
que um dia a fiz sorrir.

Não deixo falar minha voz
porque ouço a voz da razão,
que me diz vir do coração
a razão de todos nós.

E pudesse voltar atrás
e viver o que ainda me traz
a lembrança de te ter.
E pudesse viver outra vez,
aquilo que viver nos fez
para jamais esquecer.

E no meio da multidão
quem me dera dar-lhe a mão
e dizer-lhe uma última vez
o bem que sentir nos fez.

Acredita que é sentido
o que ainda te canto ao ouvido,
mesmo sem ter teu calor
a mais linda canção de amor.

E foi no juntar de dois sorrisos
que a felicidade se deu...
E foi no cruzar de dois mundos
que o amor aconteceu...

E pudesse sentir o passado
como quem vive e é amado
por quem não quer dizer.
E pudesse sentir agora
aquilo que senti outrora,
que nunca irei esquecer.





Sentir o que é sentido,
não é sentimento vivido.
É o relembrar de um refrão,
que tocou o coração.
E é no cruzar de olhares
e na troca de um beijo leve,
que a poesia nos dita,
o que o coração escreve.

domingo, 6 de junho de 2010

Hoje

Hoje nada sinto...
Nada penso.
Vejo o rio correr para o mar;
vejo o tempo passar.
Vejo a lua tirar o lugar ao sol;
um peixe a morder o anzol...
Vejo as folhas a cair
no verão que acaba de partir.

Os pássaros voam em bando;
partindo; deixando
o céu habitado,
de rosto cansado.
Vejo as nuvens juntarem-se
e as ondas do mar revoltarem-se.

Hoje só vejo o que acontece
e ao que parece
tudo é bom de se ver,
mesmo sem saber.
Não saio de onde estou
e sinto tudo o que passou...
Não penso, porque não há-de voltar.
Mais vale deixar o tempo passar.

sábado, 5 de junho de 2010

A ilusão que responda

A essas palavras que disseste,
deixo responder a ilusão.
Se a minha voz ja não te aquece
nenhumas almas a ouvirão.

Como pode ter sido calor
se o calor nunca se esquece?
Ainda por cima o Verão não ficou
e no Inverno não aquece.

O que vivi já passou
e não queres que a chama o traga.
Tão rapido o vento ta levou...
É assim que ela se apaga?

Agora vivo de olhos abertos

Procuro, agora, por ti
e vejo que me esqueci
que sabia que amar
é dar a alguém o poder de matar.

Só sei que me esqueci
daquilo que agora não esqueço;
os momentos que vivi,
ainda não os conheço.

E sei que se em dias senti calor,
não foi calor nos dias certos.
Cheguei a acreditar no amor,
agora vivo de olhos abertos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Para quê?

Sinto-me frio.
Nu.
Vazio de emoções.
Despido de pensamentos e sentimentos.

Fico sentado a ver o rio passar;
Sem querer amar ou gostar.
Sem querer tocar.
Porque ele passa sem sentir
e morre a seguir.

Para quê sorrir se um dia irei chorar?
Para quê tentar se um dia irei acabar?

Nada sintas. Deixa tudo passar.
Vê tudo de longe.
Não dês as mãos porque mais tarde irás largar.
Não sintas seus lábios se um dia irás para onde não te vais lembrar.

Leva contigo a memória de não teres dor.
Não queiras a verdade, quer a realidade!
Não queiras a felicidade, procura a vida.
Vive apenas...

Não te canses. Não penses.
Deixa...
Não penses no que foi ou podia ter sido.
Não penses no que pode vir a ser.
Limita-te a não perceber.

Não te canses. Não sintas
Vive.
Não sintas para não sentires a falta.
Não sintas para não doer
Não sintas para viver.

E assim morrerás com a lembrança daquilo que poderia ter sido
e não com a dor do que foi vivido.

Para quê começar se tudo um dia vai acabar?
Para quê viver se tudo um dia vai morrer?

terça-feira, 25 de maio de 2010

"afinal isto é que é amar"

Abri o peito ao inesperado
e sentado esperei por tudo.
Fiquei mudo ao ser amado,
pelo efeito da novidade.

Abri o muro; deixei-o cair
sem esperar sentir o que senti.
Decidi variar e não fugir,
para desta vez acabar a sorrir.

Mas quando o fim chegou
e a solidão me abraçou,
é que senti dentro de mim
o frio que se sente no fim.

Um dia, procurei alcançar o prometido.
Pensei nadar em teus cabelos lisos;
procurei fazer a felicidade
não com um, mas com dois sorrisos.

Mas os sorrisos não se juntaram...
e só vi que as mãos se largaram
quando senti, em mim, a dor
de já não sentir o calor.

Mas quando o fim chegou
e a solidão me abraçou,
é que senti dentro de mim
o frio que se sente no fim.

Desta vez decidi não fugir;
destruir o muro e sentir.
Mas por não saber o que fazer,
acabei por te perder.

E agora que tudo acabou,
é que vi que a tua chama se apagou.
E penso naquilo em que não sei pensar
"afinal isto é que é amar".


De facto houve primavera, mas a estação que acabou de chegar foi o Inverno; e com ele a chuva, o frio, as nuvens, o encoberto, os relampagos e os trovoes. Não há mais abraços, não há mais promessas, só o vazio ficou para me abraçar.
Procurei caminhar lado a lado contigo; dei-te a mão. Esperei que me levasses, como prometido, aos melhores lugares do mundo. Deixei-te passar o muro, a muralha, a fortaleza. Levei-te eu próprio aos melhores lugares que consegui.
Deixei que o sol acompanhasse o dia e que o escuro acompanhasse a noite. Deixei chover no Inverno e senti o calor do Verão, como aquilo que faz sentido estar junto está.
E é o que mais me doi. É o que mais me entristece, porque pelos vistos nao fez sentido.
"Tudo ser em vão é triste, como é triste um homem morrer". E é por isso que não tenho as forças para levantar os braços, nem para montar nos lábios um sorriso; já nem sequer para chorar, assim que escreveste "Fim" no livro que nem comecei a escrever.
como aprendi, como me ensinaste, como me mostraste, "não" nunca é resposta, "não" significa tentar de novo. Mas para se tentar é preciso acreditar...
E a réstia de esperança que tinha congelou, morreu... com a dor que o vento trouxe.
Pela primeira vez escrevo algo que sinto, e não algo que idealizo. Pela primeira vez sou sincero com o papel e não lhe conto mentiras só porque ficam bem. E nada fica mais bem feito do que quando pomos o que somos e o que sentimos no que fazemos.
E agora, infelizmente, sinto, mais do que nunca:
Ouvi dizer...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

no fim de contas...

Mais um dia nasce e mais uma vez o nascer no sol ignora a sua angústia. A dor de não ter a luz que lhe traz de volta o dia e ver na lua a única sombra de esperança no meio na noite eterna... e é no fim da noite que ele procura trazer de novo o dia, com o brilhar do mais belo olhar que o aquece como o mais quente raio de sol...
É nessa altura que ele pensa nela, com tanta força que espera que ela o sinta...

E se é no fim
que serás pra mim
a forma mais simples de amar
então eu não quero começar...

Quero que chegue o fim
pra perpetuar
o que de amar
existe em mim.

E em cada olhar,
vejo o aviso
do que é amar
num só sorriso.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Recordação do passado

Hoje sinto-me agarrado
pelos braços do passado;
do passado que não volta
e me deixa à solta.

Fica sempre qualquer coisa
que nos prende à memória;
que nos lembra do passado
e nos recorda da história.

Palavras que o vento nos traz
e nos dói a relembrar.
Quando não se pode voltar atrás
para todas as feridas curar.

E, logo assim, me sinto só
na imensidão da multidão;
na solidão do pensamento
que abala o coração.

E há qualquer coisa que não vem
para nos lembrar de quem
nos fez ficar à solta.
Que queremos de volta.

Tantos momentos não agarrados,
que nos passaram a tocar.
Dando-nos na sua passagem
momentos p'ra relembrar.

E na voz desta canção
digo tudo o que me abala,
o que me prende o coração
mas que a minha voz não cala.

E, no fim, dou por mim
a cantar sem saber.
Sem saber o que dizer,
do início até ao fim.




É uma dor que não nos toca,
que sentimos sem tocar.
Apenas quando sentimos
Que ela está para chegar.
E se voltar, dará razão
que tudo é em vão se pensarmos;
deixando o coração,
nos momentos que levarmos.