sábado, 3 de julho de 2010

Olhámo-nos!

Tirei-te a blusa,
como quem usa
luvas de seda.
Atirei-a para o chão
e com o coração
a acelerar
deitei-te, devagar,
na minha cama.
Percorri o teu corpo
com meus lábios
a beijar cada palmo da tua pele,
doce como mel.
Davas-me a mão, mas eu não queria.
Porque de mão dada sentia
e eu não queria.
Desculpa.

Beijei-te, outra vez,
como quem fez
um gesto audaz de magia
que mais parecia
o toque de uma melodia.
Passei-te a mão no corpo
e toquei-te no cabelo,
como que a vê-lo.
Beijei-te o rosto e o pescoço,
como que num esboço
de um beijo apaixonado.

Olhámo-nos!
E então aconteceu
o que naturalmente acontece:
a união de dois corpos,
no calor que aquece,
nos tremores de prazer
do que estava a acontecer.
E não quis fechar os olhos
porque de olhos fechados sentia
e com eles abertos via
a tua cara de satisfação,
no momento da união.
Tremeste abraçada a mim
no prazer daquele fim;
eu só não queria dar-te a mão,
para não te tocar o coração.

E ao deitarmo-nos, lado a lado,
de olhar cansado,
teu rosto fitado,
e suor apaixonado,
fechámos os olhos.
Fechámos os olhos
para ver em nós a razão
e deixar, de parte, o coração.
E deste-me a mão,
mas eu não quis,
pois preferi
ser feliz.


Desculpa por não te dar a mão.

5 comentários:

Sky disse...

como é possivel alguém nao querer sentir o melhor deste mundo?

R disse...

esse constante medo de não sentir para mim chama-se 'cobardia'. é o medo de dar com a cara na parede, de acabar com o coração despedaçado, de nos entregarmos a quem possa não merecer. é um modo de nos deixarmos andar na vida como pilotos automáticos, apáticos.

infelizmente não posso dizer que, também eu, não seja ou não queira ser cobarde. mas também nunca disse que era perfeita...

Anónimo disse...

Nem sempre dar a mão é sinónimo de acorrentar a alma ! contudo, não censuro, nem crítico esse medo. De resto, está bastante realista :0

m.i.s.s

Rhiakath d'Angoulême disse...

Como diria o Agostinho da Silva "Temos é que amar cada vez mais a vida, para ver se as pessoas se despem desse pessimismo! Se andando vivos na vida, ao passo que muitos fazem de morto para que avida não os agrida a eles, cheguemos a ter um entusiasmo comunicativo em nós próprios sempre e com aqueles que connosco lidarem!"...

Está rebuscado, mas vai po caralho na mesma

Sky disse...

temos pontos de vista diferentes para mesmos assuntos :)
é bom sermos pseudónimos de um mesmo ortónimo: quer dizer que havemos de ter algo em comum ;)