E não vi o Sol partir,
porque me levei na corrente
deste sonho eloquente.
Mas assim sonhei,
lado a lado com um amigo,
que se sentou a sonhar comigo.
Ao meu lado? Um amigo. Na beira da piscina fazemos planos e desenhamos mundos no Céu; vivemos nossos sonhos e viajamos no tempo para o futuro, na máquina da nossa imaginação. Somos Reis, ou Deuses, ou turistas que fazem a mala e viajam pela vida, para a conhecer.
Imagino-me assim. Um turista; umas botas de montanha, umas jeans e, para cima, uma t-shirt confortável e um casaco de malha que nos aquece nas noites mais frias. Às costas levo apenas a guitarra e um bloco de folhas onde escrevo. Uma bolsa pequena à tira-colo leva todos os meus pertences: a carteira com algum dinheiro e documentos; uma bússola (que eu não sei ler); uma caneta e um canivete. Pronto para viajar e conhecer o mundo à minha volta. Pronto para as aventuras, a experiência, o conhecimento e o crescimento. Turista sonhador...
Volto ao mundo real. Lá continua o meu amigo comigo. Ouvimos uma criança no quarto da casa em frente a tocar um instrumento de sopro. Trocamos ideias e jogamos Monopólio com as casas que avistamos nos vales das montanhas que nos cercam. Brincamos com esses pontos tão longínquos, que nos cabem na palma da mão.
Conversamos sobre tudo; do que vamos fazer ou do que queremos fazer; daquilo que gostávamos de ser e os caminhos por onde queremos andar.
O pôr-do-sol estende-se pelo céu, reflectindo-se no rio que vemos de onde nos encontramos sentados e na piscina que temos nas nossas costas. É de um vermelho vivo incrível, que divide o Sol em duas metades igualmente lindas.
E continuamos a conversar. Estamos já numa discussão tão viva sobre aquilo que vamos fazer e do quão grandes vamos ser que tudo parecia ser real e os pontos longínquos em forma de casa eram agora todas as nossas futuras conquistas; o rio espelhava não o sol, mas os nossos sonhos realizados; pelo céu já não se estendia a mancha docemente avermelhada do pôr-do-Sol, mas sim o sabor da vitória. Estamos tão embalados pela melodia da nossa imaginação...
...
Já tudo nos parecia distante e tão pouco real, quando nos apercebemos que estávamos sozinhos, eu e o meu amigo; o Sol partira e nós tínhamos continuado ali sentados a sonhar e a partilhar aventuras não realizadas. O rio já não espelhava o Sol, ou os sonhos, mas sim as luzes de todas aquelas casas lá longe. No céu já não estava a cor avermelhada nem a nossa vitória, mas sim a lua e as estrelas. A criança já não tocava o seu instrumento. Já se viam luzes ligadas dentro de casa.
E assim, já sonhados, voltamos para junto do resto do mundo.
3 comentários:
este é o texto mais bonito que li aqui, até hoje! faz sonhar :)
parece uma optima maneira de passar uma tarde *
"Trocamos ideias e jogamos Monopólio com as casas que avistamos nos vales das montanhas que nos cercam."
;))
m.i.s.s
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