Hoje lembrei-me de pintar.
Peguei num pincel
e comecei, mas sem papel
não consigo desenhar.
Peguei numa tela
e desenhei nela
o esboço das tuas formas.
E como que numa cor tornas
a estar viva à minha frente.
Mudo então a cor, porque não quero
ter-te de novo ao vivo,
pois desespero
e de ti me esquivo.
Desenho os contornos das tuas curvas
em cores meio turvas.
A tua imperfeição aparece em traços claros
em contraste com a vivacidade dos teus olhos desenhados.
Em teus lábios me envolvi
pois ao desenhar percebi
que os nossos se tinham beijado.
Desenhei teus cabelos
em cachos dourados;
com teus caracóis,
longos e enrolados.
Da perfeição fiz as tuas pernas
ou fiz de tuas pernas a perfeição;
não sei bem qual delas foi
do meu desenho a razão.
Não te pintei o coração,
pois preferi desenhar-te a razão;
nem te desenhei a roupa
e a culpa é só tua,
porque na imagem da minha mente
só te imagino nua.
4 comentários:
Somos o contraste eu e tu: a razão e o coração, o sentir tudo e o sentir nada, a serenidade e o arriscar tudo ... gosto de ler os teus pontos de vista, a tua perspectiva 'carpe diem' em comparação com a minha de 'sentir tudo de todas as maneiras' :) cada um de nós é prova viva que se pode ser feliz das duas maneiras *
tens uma enormissima qualidade de escrita.
gostava mesmo de ser aquela mulher para ser desenhada por ti.
há mulheres com sorte.
hoje estou sem inspiração para deixar algum comentário de jeito, mas a ti...é o que não te falta. continua :)
Nós pintamos a nossa própria realidade, é verdade.
Razão ou emoção, tenho me apercebido do quanto te questionas em relacão a tal dualidade, e que preferes não pensar, mas sentir, assim como Alberto Caeiro: sentir tudo de todas as maneiras, formas, cores, odores.
Pessoalmente, tendia a dizer que era muito mais emocional do que racional, mas na verdade não consigo dizer qual das duas partes tem mais peso em mim, mas consigo dizer que em mim a razão destroi a emoção, e doí muitas vezes.
Mas, não conseguimos viver sem pensar racionalmente e sentir, mas digo: sente com o coração aquilo que a razão teima em não sentir.
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