quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sai dessa nuvem

Sai de trás da nuvem, meu anjo
e vem com tuas asas elevar-me.
Vem a voar para meus braços,
que é esse o teu lugar.
Vem comigo perpetuar,
que eu não fujo dos teus passos.

Sai dessa nuvem, meu anjo, sai
e vem-me conhecer.
Vem comigo viver,
ou deixa-me só o desejo
de te ver voar para mim
que eu morro em teu beijo.

Voa até mim, devagar,
para eu ter tempo de contemplar
a tua forma de viver.
Juro que te vou abraçar, por isso
vem viver comigo meu anjo
e sai dessa nuvem para eu te conhecer.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Não vi o Sol partir

E não vi o Sol partir,
porque me levei na corrente
deste sonho eloquente.
Mas assim sonhei,
lado a lado com um amigo,
que se sentou a sonhar comigo.

Ao meu lado? Um amigo. Na beira da piscina fazemos planos e desenhamos mundos no Céu; vivemos nossos sonhos e viajamos no tempo para o futuro, na máquina da nossa imaginação. Somos Reis, ou Deuses, ou turistas que fazem a mala e viajam pela vida, para a conhecer.
Imagino-me assim. Um turista; umas botas de montanha, umas jeans e, para cima, uma t-shirt confortável e um casaco de malha que nos aquece nas noites mais frias. Às costas levo apenas a guitarra e um bloco de folhas onde escrevo. Uma bolsa pequena à tira-colo leva todos os meus pertences: a carteira com algum dinheiro e documentos; uma bússola (que eu não sei ler); uma caneta e um canivete. Pronto para viajar e conhecer o mundo à minha volta. Pronto para as aventuras, a experiência, o conhecimento e o crescimento. Turista sonhador...
Volto ao mundo real. Lá continua o meu amigo comigo. Ouvimos uma criança no quarto da casa em frente a tocar um instrumento de sopro. Trocamos ideias e jogamos Monopólio com as casas que avistamos nos vales das montanhas que nos cercam. Brincamos com esses pontos tão longínquos, que nos cabem na palma da mão.
Conversamos sobre tudo; do que vamos fazer ou do que queremos fazer; daquilo que gostávamos de ser e os caminhos por onde queremos andar.
O pôr-do-sol estende-se pelo céu, reflectindo-se no rio que vemos de onde nos encontramos sentados e na piscina que temos nas nossas costas. É de um vermelho vivo incrível, que divide o Sol em duas metades igualmente lindas.
E continuamos a conversar. Estamos já numa discussão tão viva sobre aquilo que vamos fazer e do quão grandes vamos ser que tudo parecia ser real e os pontos longínquos em forma de casa eram agora todas as nossas futuras conquistas; o rio espelhava não o sol, mas os nossos sonhos realizados; pelo céu já não se estendia a mancha docemente avermelhada do pôr-do-Sol, mas sim o sabor da vitória. Estamos tão embalados pela melodia da nossa imaginação...
...
Já tudo nos parecia distante e tão pouco real, quando nos apercebemos que estávamos sozinhos, eu e o meu amigo; o Sol partira e nós tínhamos continuado ali sentados a sonhar e a partilhar aventuras não realizadas. O rio já não espelhava o Sol, ou os sonhos, mas sim as luzes de todas aquelas casas lá longe. No céu já não estava a cor avermelhada nem a nossa vitória, mas sim a lua e as estrelas. A criança já não tocava o seu instrumento. Já se viam luzes ligadas dentro de casa.
E assim, já sonhados, voltamos para junto do resto do mundo.

Meu raio de Sol...

És tu o meu raio de sol
és tu!
Voltaste para mim nestes dias de Verão.
Peço-te que não voltes mais a fugir
porque quero que me aqueças quando vier o Inverno.
Não fujas e aquece-me o corpo.
Ilumina-me os dias (e as noites).
Acorda-me de manhã,
como fazes sempre, pela janela do meu quarto.
Leva-me o mais doce pequeno-almoço
e dá-me um beijo ao acordar.

Não quero que vás embora.
Quero partilhar meu paraíso contigo.
Quero que fiques aqui comigo;
deita-te do meu lado e aquece tu também.
Não te preocupes que hás-de sempre saber o caminho
para voltares a casa.
Deixa-te, então, ficar.

Dá-me um mundo num raiar,
que eu continuo a viver nele contigo aqui.
Entra mais vezes na minha janela
e lembra-me como é belo este dia.
Espera-me sempre ao acordar
e fica perto de mim
porque se um dia eu acordar mais cedo
também eu te levarei o pequeno-almoço à cama.

"You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are gray
You'll never know dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away"

domingo, 18 de julho de 2010

Tenho o meu paraíso

Para trás ficam as saudades
daqueles de que me despeço.
E despeço-me porque sei
que ao partir magoei alguém.
Deixo as saudades no bolso
e parto rumo a um mundo novo.
E como é bonito este novo mundo,
agora que nele o posso sentir;
porque sei que por mais de bom que venha,
nunca mais ira partir.

Abraço de perto a felicidade
e digo adeus a tudo o que faz sofrer;
neste mundo que é tao meu
em que aproveito para esquecer.
Num olhar tão sincero
faço dele o meu sorriso,
pois tenho na mão o que quero:
tenho este meu paraíso.

Fecho os olhos e peço ao céu
que não me faça parar de sonhar,
porque quando abrir os olhos
será altura para voltar.
E seja um dia que volte,
um dia para esquecer,
pois volto para um mundo
que só me faz sofrer.




Finalmente chegou o dia em que vos preparei para partir. Para trás deixo os Obrigados e o Adeus num abraço longínquo.
Seja o dia em que eu acordar, o dia em que volte, aquele dia que me faça despertar, que por mais que se sonhe e se tente, não conseguimos viver a sonhar.

Adeus.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Custa

Pesa-me a mão sobre o peito;
a mão que quando me deito
me toca a coração.
Custa-me ao respirar,
como me custa pensar
haver tanta dor na razão.

Custa-me fechar os olhos e dormir
como me custa pedir
mais uma hora de descanso.

Custa-me tanto pensar
como me custa adormecer.
Mas fecho os olhos com força
na ânsia de me esquecer.

E então fico por aqui, deitado
vivo e gelado
à espera que me chamem.
E no sonhar acordado,
digo, de cansado,
por favor, não me amem.

domingo, 11 de julho de 2010

Nu

Quero viver nu
porque foi nu que nasci.
Quero viver assim,
para sentir em mim
o vento que me toca.
Quero viver no estado mais puro;
quero viver nu de preconceitos,
despido de actos perfeitos.
Quero errar em paz
e olhar para trás
e ver os meus defeitos.
Quero viver nu de razão
e nu de coração.
Quero mostrar meu corpo;
viver sem estar morto.
Quero viver nu
para mostrar que é natural
a minha forma de viver.
Quero viver nu porque não é normal,
é um viver natural.
E narcisismos à parte,
sou uma obra de arte.
Não quero roupa no corpo,
porque é um viver pesado
e eu não me quero sentir fechado.
Quero estar aberto à chuva que me molha
e ao mundo que me olha.
Quero mostrar quem sou
e o meu espaço;
e quero que vejam onde vou
e o que faço.
Não quero viver vestido,
porque isso não faz sentido;
porque isso é viver errado.
Quero viver despido,
porque nu é o meu estado.

sábado, 10 de julho de 2010

Rascunho

Deito-me na cama e rascunho.
Rascunho para o ar
palavras do que quero viver,
ou do que virei a ser.
Faço projectos de vida;
desenho uma saída.
Esboço sorrisos
por nada que se vá concretizar.
É o sonho, é sonhar.
Faço planos de voar,
de partir, sem voltar;
e crio o meu próprio fado.
Rascunho um desejo
e rascunho até um beijo.
É um toque rascunhado
de um olhar envergonhado.
Esboço palavras e textos
dos olhos que hoje fecho,
lembrando-me de pensar.
E de olhos fechados rascunho
mais um pouco do mundo.

Estou na cama, deitado
e abro os olhos devagar.
Sorrio e levanto-me,
porque há lá fora
mais folhas para rascunhar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Actos e passos

É com meus actos que mostro quem sou.
É com o que faço que me faço ouvir,
não é com o que digo,
que a boca pode mentir;
nem é com o que sinto,
que o coração pode trair.
É em cada passo que dou que mostro o que sou
e onde vou, devagar, sem ter medo,
seja tarde ou cedo, para mostrar o que digo.
É com o que faço que me afasto do que não quero sentir.
Mas é com o que faço que não engano;
é com meus passos que me amo.
É com o que faço que chamo quem
eu quero que me veja bem.
É com meus actos que não iludo
e com meus actos acudo
aqueles que me chamam.
É com meus actos que digo
àqueles que me amam
que não consigo não os fazer sofrer.
É com meus passos que magôo
e é com meus passos que corro
para longe de tudo.
E novamente acudo aqueles
que com meus passos piso
deixando o aviso
de quando posso magoar.
É com meus passos que faço sorrir
ou então que faço chorar;
mas é com meus actos que sem sentir,
mostro aos outros o que é amar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pintei-te

Hoje lembrei-me de pintar.
Peguei num pincel
e comecei, mas sem papel
não consigo desenhar.
Peguei numa tela
e desenhei nela
o esboço das tuas formas.
E como que numa cor tornas
a estar viva à minha frente.
Mudo então a cor, porque não quero
ter-te de novo ao vivo,
pois desespero
e de ti me esquivo.
Desenho os contornos das tuas curvas
em cores meio turvas.
A tua imperfeição aparece em traços claros
em contraste com a vivacidade dos teus olhos desenhados.
Em teus lábios me envolvi
pois ao desenhar percebi
que os nossos se tinham beijado.
Desenhei teus cabelos
em cachos dourados;
com teus caracóis,
longos e enrolados.
Da perfeição fiz as tuas pernas
ou fiz de tuas pernas a perfeição;
não sei bem qual delas foi
do meu desenho a razão.

Não te pintei o coração,
pois preferi desenhar-te a razão;
nem te desenhei a roupa
e a culpa é só tua,
porque na imagem da minha mente
só te imagino nua.

sábado, 3 de julho de 2010

Olhámo-nos!

Tirei-te a blusa,
como quem usa
luvas de seda.
Atirei-a para o chão
e com o coração
a acelerar
deitei-te, devagar,
na minha cama.
Percorri o teu corpo
com meus lábios
a beijar cada palmo da tua pele,
doce como mel.
Davas-me a mão, mas eu não queria.
Porque de mão dada sentia
e eu não queria.
Desculpa.

Beijei-te, outra vez,
como quem fez
um gesto audaz de magia
que mais parecia
o toque de uma melodia.
Passei-te a mão no corpo
e toquei-te no cabelo,
como que a vê-lo.
Beijei-te o rosto e o pescoço,
como que num esboço
de um beijo apaixonado.

Olhámo-nos!
E então aconteceu
o que naturalmente acontece:
a união de dois corpos,
no calor que aquece,
nos tremores de prazer
do que estava a acontecer.
E não quis fechar os olhos
porque de olhos fechados sentia
e com eles abertos via
a tua cara de satisfação,
no momento da união.
Tremeste abraçada a mim
no prazer daquele fim;
eu só não queria dar-te a mão,
para não te tocar o coração.

E ao deitarmo-nos, lado a lado,
de olhar cansado,
teu rosto fitado,
e suor apaixonado,
fechámos os olhos.
Fechámos os olhos
para ver em nós a razão
e deixar, de parte, o coração.
E deste-me a mão,
mas eu não quis,
pois preferi
ser feliz.


Desculpa por não te dar a mão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Deita a cabeça no meu colo

Deita a cabeça no meu colo,
que com meus dedos afogo
os medos que em tua alma vagueiam.

Deita a cabeça no meu colo
e dá-me o teu olhar,
que ele vai odiar
conhecer o que hoje vejo.

Fecha os olhos e não vejas
aquilo que meus olhos vêem.

Olhemos juntos o mundo lá fora
e vejamos como se alastra a tua dor.
Esperemos de olhos fechados,
porque amanhã tudo será melhor.

Olhemos a vida com olhos de esperança
porque sabemos que tudo um dia irá passar.
E a menos que não passe o tempo,
ainda virei eu para te abraçar.

Abre os braços e sente
os meus braços em ti.

Se algum dia os meus dedos
se esquecerem de continuar,
lembra-me dos teus medos
para eu os abraçar.

Dá-me a mim o que sentes.
Não quero abraçar ninguém.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

São coisas


Há coisas que não conseguem mudar,

e nem mesmo o fogo as consegue queimar;

porque são coisas que mesmo ausentes,

continuam a ser sentidas como presentes.

E se por acaso um dia falharem,

não é razão para preocupar;

porque um dia, quando voltarem,

será para não mais nos deixar.