segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Fica comigo

Sonho,
porque me deixas?
Dás-me tanto a viver,
tanto a conhecer,
para num abrir e fechar de olhos
tudo desaparecer...

Porque não ficas comigo
e eternizamos o que representas?
Não me abras os olhos;
traz-me antes aos molhos
a esperança que alimentas.

Alimenta-me dessa esperança que carregas
e não deixes que ela vá contigo;
porque se um dia te fores embora,
deixa-a a ela ficar comigo.


sábado, 20 de novembro de 2010

O mundo que se habitue

Eu queria partilhar
esta forma de viver.
Eu só queria não gostar
de ter
a meu lado a minha luz,
que me mostre o rumo certo
e o caminho a tomar
da vida que quero levar.

Eu não queria ter-te perto.
Só não queria estar tão certo
de que te vou magoar,
só porque
um dia te irei deixar;
irei partir para longe,
para bem longe daqui,
só p'ra poder brilhar.

E o mundo que se habitue...
Que mesmo que o Sol se vá,
eu não vou deixar de brilhar.

Eu não queria ser assim:
ter em mim a luz do Sol;
não queria não ter fim,
pois vou ter
de acordar um dia
e olhar para trás,
mesmo quando não queria
lembrar-me do que o passado me traz.

Peço ao mundo que se habitue...
Que não é pelo Sol baixar,
que eu vou deixar de brilhar.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Oh mulher...

Oh mulher, que amas tanto em teu olhar;
em cujo olhar tanto há de viver...
Não tornes a querer amar,
para que mais tarde não tenhas que esquecer.

Finge que é teu aquilo que desejas,
mesmo sendo o desejo algo que não vejas.
E não queiras de novo amar,
que isso não te vai deixar voar.

Sei que sou o único em que não acreditas;
mas o único que queres ouvir.
Porque não são palavras bonitas;
é o que sei que não queres sentir.

E então voa para bem longe,
das dores de que te aviso.
Não queiras começar a sentir,
para por fim a um sorriso.

Abre, então, as asas e voa
para bem longe com a lua...
Para que não seja à toa
que esta canção seja tua.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Como um abraço

Foi como um abraço,
que se prende à volta do corpo
e me deixou, como morto,
a sufocar no aperto do toque.
E mais cedo chegou a hora,
de sonhar acordado, comigo,
numa saudade que me devora
para me lembrar de que consigo
respirar de olhos fechados.

Mas não volto
para o mundo dos homens amados.
Porque se sente que é nostalgia
o abraço da magia
que me deixa a respirar
a ilusão de voar;
algo que de costume fazia
e que de hábito acabei por perder
porque me lembrei de esquecer.

sábado, 2 de outubro de 2010

A noite

Hoje não vejo o amanhecer.
Quero fazer durar a paz
que a noite me traz.
Depois de umas horas sentado à janela,
vejo que a noite tem nela
a força de esquecer.

Observo a forma como o vento
consome o cigarro que fumo,
nesta noite em que não durmo.
Vejo a lua brilhar sozinha,
sobre tantos candeeiros acesos;
nesta noite que parece minha.

Ouço os pássaros que trazem a notícia de um novo dia
e aprecio com vaidade o privilégio
do vento solitário que me arrepia.
E vendo que já vem de novo o sol,
recolho para o conforto da minha cama,
abraçando quem me ama.

Cubro meu corpo com o lençol,
como que num gesto de grande esforço,
deixando despido o meu dorso.
E como a noite tem a força de apagar
aquilo que de vaidoso me esqueço,
apago a luz e adormeço.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Estou só

Não quero que me largues a mão,
nem que me largues deste abraço.
Porque sem sentir o teu toque,
não sei mais o que faço.

Fico vazio e triste
e eu sei que te riste
do meu medo das alturas
e das tuas palavras duras.

Por isso te peço que me dês a mão
e que me cantes uma canção;
que me apertes com força os dedos
a ver se apertas, também, meus medos.

Levo-te a ver, comigo, o mar.
E é quando ele me diz que estou só.
Então afinal isto é que é amar:
é transformar os sonhos em pó.

Esqueço isso e fecho os olhos;
penso antes no que, sozinho, criei.
Faço das ondas o meu desabafo
e vejo que o mar é tudo o que sonhei.

Viver sozinho é tudo aquilo que eu sonhei.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Canta-me uma canção

Canta-me uma canção
e não laves as mãos nas minhas lágrimas.
Canta-me uma canção
e mostra-me que o seu refrão
são mais do que palavras de ilusão.

Mostra-me que cantar
é com mil palavras tocar
a mão que já não pegas.
E com uma palavra me elevas,
no toque de cada verso teu.
E no cantar dos refrões me dás
o misto de guerra e paz
que em tempos me envolveu.

Canta-me uma canção
ou escreve-me poesia;
mas diz-me que ainda vês meu olhar
e sentes meu sorriso ao lembrar
dos versos que te fazia.

Pede-me só mais um dia,
para que eu possa partir
sem voltar a sentir.
Pois de sorrir fiquei cansado;
de olhar calado e gelado,
da luz que me ofuscou,
do verso que me lembrou
ao ver-me assim, sentado.

De estar sentado fiquei cansado
ao ver que o dia amanheceu;
fico agora a ler o teu livro
a ver qual dos poemas é meu.